quinta-feira, dezembro 31

NEW Year

Hoje é o último dia do ano, como todo mundo sabe. E eu não tenho muito o que dizer, não. Acho que só vim desejar um Ano Novo novinho mesmo; diferente, inusitado, com boas surpresas. Sejamos felizes.
Amanhã a gente recomeça.

Que venha 2010. E que seja bom.
Até o ano que vem.

segunda-feira, dezembro 28

Conclusões de um ano passado

Ok, 2009 não foi dos piores anos da minha vida, mas vamos combinar que também não foi lá essas coisas. E não vem você me dizer que é difícil me agradar; eu só não me contento com menos do que eu queria.

Passei no vestibular, passei seis meses (quase enlouquecendo) de férias, comecei a faculdade, enlouqueci com os prazos da faculdade, me cansei do trabalho e me descobri no caminho errado. Descobri cedo, pelo menos. Mas um pouco tarde, de outro ponto de vista.
De saúde estive bem, até; uma cirurgia no começo do ano e sem maiores complicações. Comecei a tão prometida dieta (já tava na hora!) mas confesso que dou minhas escapulidas de vez em quando... Tive que extrair dois sisos, os próximos dois vão ter que esperar até Fevereiro. Escrevi bastante, perdi alguns fins de semana, recuperei em outros, não fiz muita festa mas me diverti muito.
Me preocupei demais. Minha avó me deu alguns sustos, minha irmã resolveu que vai comprar um apê, minha mãe enlouquecendo (também) com a faculdade somada ao trabalho, meu pai trabalhando além da conta, meu primo se acidentando seguidamente e o outro na tensão do vestibular.
Mas coisas boas, também; meu irmão começou a trabalhar; ganhei duas priminhas. Reafirmei laços, e os fortaleci.
Fiz amigos novos, revi antigos. Ganhei uma grande amiga e um grande amigo (pelo menos eu os considero assim). Fiz um trabalho muito legal. Conheci lugares (incluindo alguns pontos de Porto Alegre, e confesso que ainda me perco por lá, de vez em quando).

O balanço não tem saldo negativo; poderia até dizer que foi um ano bom. Mas é que algumas preocupações me tiram o foco das coisas legais, e por isso que digo que podia ter sido melhor.

Em 2010 eu quero principalmente saúde pra minha família e amigos; e pra mim. De resto, eu quero só ser feliz, e fazer os que estão a minha volta felizes também.

quinta-feira, dezembro 24

Um presente

Ele estava sentado no sofá de couro da sala de estar do seu melhor amigo. As festas de Natal eram sempre ótimas lá, e todo ano ele ia prestigiar a popularidade do amigo e a beleza das amigas do amigo dele. Isso sim que era ótimo; era o que fazia as festas tão boas, pra dizer a verdade; verdade que ele insistia em esconder quando questionado sobre isso, afinal, ele estava lá só por causa da grande amizade dos dois. Claro, o outro não era idiota, e aceitava a resposta, visto que entendia os reais motivos e concordava com eles. Ambos, sempre em festas rodeados de mulheres.

Mas hoje era diferente. David contemplava o teto da sala com nenhuma companhia. E o Plínio, o anfitrião, parecia fugir das grandes rodas de conversas. Nem entre si conversavam e o silêncio dos dois começou a fazer barulho. Logo eles estavam na mente de todos que procuravam uma explicação pra tamanha discrição, já que normalmente eles estariam no centro da piscina com mais algumas garotas.

Não levou muito tempo até que David se levantou e despediu-se dos que estavam perto. Apanhou as chaves do carro e foi-se. Dois minutos e Plínio estava ausente também. A festa notou as ausências, mas era véspera de Natal e muitos champanhes ainda precisavam ser bebidos; a música se encarregou de apagar as memórias recentes e a festa continuou sem maiores problemas.

Dez minutos dali, o carro prateado de vidros escuros parecia esperar um novo passageiro. David abriu a porta para Plínio que entrou e acomodou-se no banco do carona. Alguma coisa parecia sacudir o carro e gritos abafados tomavam conta da atmosfera já tensa entre os dois. Mais meia hora de estrada e seria feito.

- Droga. Que droga, cara!
- Lá vem você de novo. A gente já conversou sobre isso; não tem outra saída.
- Tem que ter.
- Então qual é, gênio?
- Eu não vou matar ninguém.
- Ninguém disse que você tem que matar alguém. Droga, David. Você disse que ia ajudar, então ajuda!
- Ok. Eu disse. Mas isso foi antes de saber o que você tinha em mente. E você também não sabe mentir. Ah, eu estou tão ferrado.
- Deixa as lamentações pra mais tarde. Nós ainda não fizemos nada.
- ...
- E não adianta ficar "emburradinho" porque não vai fazer diferença. Quando a gente chegar lá, só me ajuda a tirar ela do carro.
- Não.
- Cara, ok, eu também não gosto disso. Mas ela sabe coisas que não deveriam estar nem no mais remotos dos pensamentos dela. Eu não tenho outra escolha. Se ela sair daqui viva, eu acabo preso e falido. Aí, sem mais festas de Natal, sem mais amigas, sem mais carros emprestados, sem mais...
- Que se danem as festas, as amigas, os carros e tudo mais que possa vir! Eu não vou acabar com a minha vida por causa da sua mancada!
- O que quer dizer com isso?
- Que eu to fora.
- Você já está dentro de mais para sair. Sabe, areia movediça, cara. Anda, me ajuda aqui.
- ...
- Eu não vou pedir de novo.
- Merda. Merda! Tá legal. Mas eu não vou mais longe com isso.
- Tá, tá... Deixa as promessas pro Ano Novo, cara.

O carro parou. Os dois, de luvas nas mãos, saíram do carro e dirigiram-se ao porta-malas, agora destravado. A tampa foi erguida e os gritos ficaram mais claros. Algo como "David-não-deixa-ele-fazer-isso-comigo-David-não-deixa!-não-deixa-não-deixa..." e então ele reconheceu a moça. Não era a secretária nova que Plínio dissera ser. Não era uma estranha. Era a Lu. A ex-namorada daquele covarde. A Lu, que crescera com ele e por quem ele tinha uma queda desde a oitava série. E desde que entrara na faculdade, há três anos, tinha que suportar o melhor amigo com ela. Plínio não sabia. Nunca perguntara, também. Ele não contaria, de qualquer forma. Mas então, não era a secretária, era Lu. E aquele filho-da-mãe ia apagá-la porque ela "sabia demais".

- Então, acho que essa não é a sua nova secretária, não é?
- Ah, o que?
- Ela, não é a nova secretária, não é?! É a Lu, cara! A Lu! Seu filho da puta!
- Ei, não é hora de dar nome aos bois, tá legal? É a Lu, grande coisa. Nunca valeu nada, essa vadia. E agora quer me jogar na cadeia só porque descobriu umas coisinhas, os esqueletos no meu armário. Ah, por favor. Todo mundo tem esqueletos no armário, não é, David?
- Seu filho da puta. Você não vai encostar num fio do cabelo dela.
- Eu já encostei, cara. Em todos eles, você sabe...
- Cala a boca.
- Eu acho que tem alguém um pouco exaltado aqui.
- Cala boca, desgraçado.
- Ok, você não quer fazer, eu mesmo faço. Só não me atrapalha, certo. Espera ali do lado que eu não vou demorar, não. Essa já tá sem força, nem vale a pena aproveitar antes do grande final. Vai, cara, ligeiro se não eu vou atirar na tua frente mesmo.

David foi andando, passo por passo, enquanto os gritos ficavam mais urgentes e esganiçados.
"DAVID! DAVID NÃO DEIXA! POR FAVOR, POR FAVOR NÃO DEIXA!
O barulho do tiro cortou o ar, machucando os ouvidos como se rasgasse o pulmão. Na verdade, rasgou o pulmão; o de Plínio, que não tirara a arma da mão de David antes de mandá-lo se afastar.

A arma de David escorregou das suas mãos e caiu. A moça ainda choramingava alguma coisa quando ele tirou a mordaça e desamarrou as mãos e pés dela. A Lu abraçou ele, soluçando convulsivamente e respirando com dificuldades. Não conseguia nem falar, porque aparentemente tentava bastante.

Os fogos romperam a melodia chorosa e o clima pesado do ambiente, anunciando a meia noite. O céu, tingido de todas as cores, era mais leve e exibia uma Lua totalmente cheia. Até bonita. Era uma noite feliz, pra quase todos.

- Feliz Natal, Lu. Feliz Natal.

sexta-feira, dezembro 11

Preto no Branco - Postagem Temática

Terminara. Finalmente, a carta estava escrita. Cada palavra de agonia, de desespero, frustração. Estava acabada; como ela.
A folha tão branca, como a pele que revestia a mão que escrevia, parecia cintilar atrás das letras desenhadas à tinta. Analisava cada linha, como quem procura uma razão que desconhecia. Queria dizer mais; parecia não haver palavras. Conformou-se, então.

Os olhos negros continuaram a fitar a carta. Os dedos da mão tão branca passeavam pelos contornos dos escritos e a tinta tão preta borrava pelas linhas da folha pálida. O movimento delicado do seu toque fez o tinteiro cair no tapete e espalhar o pretume por todo lado. O piso claro foi tragado pelo buraco negro no chão.


Ela junto: no fundo do poço obscuro, absorta. Mergulhada na tinta negra que agora lhe tingia a alma. Preto o que era branco; a vontade de seguir em vida lhe escapava pelos dedos.





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Essa postagem faz parte do projeto Postagem Temática, idealizado pelo Rafael Glória. Participe também =D

quinta-feira, dezembro 3

Em família

No quarto, escuro por causa das cortinas fechadas, jazia o corpo inerte de sua mãe. Os lábios, outrora rosados e quentes que lhe beijavam a testa todos as noites, nunca mais se moveriam, e a voz suave que lhe sussurrava cantigas de ninar quando tinha medo de dormir sozinho jamais seria ouvida novamente. Fria, a mão dela ainda estava entre as suas; o menino órfão não desistira de tentar acordá-la.
Ela encontraria seu pai, provavelmente; mas será que ele a esperava ainda? Afinal, já fazia três anos que ele morrera... Era bom que sim, pensava; quando o pai havia morrido a mãe ficara desolada. Chorava todos os dias, no banheiro, pra que ele não a visse; mas ele ouvia. Era bom que o pai ainda a esperasse.
E será que a mana, que nascera três meses depois da morte do pai e não pode viver mais de um ano, estaria lá também? A mãe poderia, então, reconstruir a família. Ela, o pai, a mana... mas ele não estaria lá. Queria estar. Decidiu que iria.

Só precisou de um passo pra fora do quarto através da grande janela do 17º andar. O menino de 11 anos foi atrás de sua família.

quarta-feira, dezembro 2

Unnamed

Perdi o prazo.

Essa edição do Postagem Temática me escapou. E olha que eu queria ter participado, apesar de não saber direito o que classificar num top 5. Das coisas que eu quero, agora, só consigo pensar em uma: FÉRIAS. Isso que eu tive seis meses de intervalo entre as férias de verão e o início das aulas. Aliás, eu quase enlouqueci nesses seis meses; muito tempo sem ocupação é algo que me deixa nervosa. Mas, agora, férias vão bem. Muito bem, eu diria.

Tempo me faltou. Ou melhor, eu não consegui aproveitar o que eu tinha. Incompetência minha ou aflição³ de bixo perante as primeiras provas da faculdade. Elas acabaram comigo na semana passada. Ah, mais uma coisa que eu queria: um fim de semana sem ter de ler ABSOLUTAMENTE nada que eu não quisesse. Os meus 2 últimos fins de semana não existiram; cheguei na segunda com as mesmas olheiras de sexta. E, mais uma coisa, eu queria dormir 10 horas, sem intervalos, acordar com o celular despertando, poder desligá-lo e dormir mais algumas boas horas.

Na próxima edição do Postagem eu participo. Estava sentindo falta de ter esse tempinho de dar o ar da graça por aqui =D

E eu realmente não tenho nada de interessante pra dizer; fico por aqui, então. Aguardo o próximo tema e inspiração pra próxima postagem.

sexta-feira, novembro 20

Foi feio

Ontem o temporal foi ALGO. Em questão de minutos o céu escureceu e o vento começou a soprar tão forte que achei que sairia voando (e olha que eu sou pesadinha, hein...). Árvores tombadas, postes da rede elétrica caídos, casas destelhadas... municípios gaúchos decretando situação de emergência.
Aqui, em Porto Alegre deu medo. O céu estava pesado; parecia que estava prestes a cair sobre a cidade e esmagar tudo que estava ali em baixo. A temperatura caiu junto com a chuva torrencial; e, às 13:00, o dia era noite.

Saudades daqueles dias que fica chovendo o tempo todo, quase sem cair raio e sem ter ventos de mais de 100 km/h. Era bom.




PS: assisti "2012" na quarta, e na quinta acontece tudo aquilo. Vai me dizer que tu também não ia associar as coisas?? xD

quarta-feira, novembro 11

Perdida

Completamente.

Às vezes eu realmente tenho medo de acordar e descobrir que minha vida passou sem que eu pudesse se quer abanar pra ela. Eu não sei o que eu faço aqui, pra onde eu vou... ou melhor, pra onde eu quero ir. Eu queria poder ter todas as certezas que eu tinha há alguns anos atrás, mesmo sabendo que essas certezas não eram certas. Mesmo que todas elas fossem as coisas mais impossíveis do mundo e que não passassem de besteiras infundadas, cretinas, até. Eu queria. Eu estou à deriva, na beira do penhasco e querendo pular. Quem sabe lá embaixo tem alguma coisa esperando por mim, e eu só preciso da coragem de experimentar? Quem sabe.

domingo, novembro 8

Do que eu acho que tenho quase certeza - II

Quanto mais tempo e tenho, menos eu faço.
Preguiça, ou aquela terrível sensação de que "ainda tenho tempo" e posso deixar pra depois. Eu sei que eu não posso porque depois haverá mais coisas pra serem feitas, mas eu deixo. Acho que trabalho melhor sob pressão. Ou sei lá, eu devo gostar de sempre achar que não vou dar conta de tudo.

Mas desde que tudo seja feito, que importa o tempo que eu tinha, né?

sexta-feira, novembro 6

Chuva - Postagem Temática

Água caindo
como
gotas de lágrimas;
agora,
dilúvio
em noite fria
de verão.

A chuva
molhando o
rosto
de quem não pode
mais
chorar,
inunda os olhos
e leva
o cisco que entra
no olho de quem
diz
que não chora mais.

Dilúvio lá fora
e
por dentro
consola
o choro levado
com o cisco
pra fora.

A chuva que chora a água que leva o cisco embora.

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Essa postagem participa do projeto idealizado pelo Rafa Glória, o Postagem Temática.
O tema dessa edição foi chuva.
Para saber o que rolou nos outros blogs participantes acessa o Blogsintonizados.
Tá a fim de participar? Deixa teu recado lá no blog do Postagem =)


Sugestão de tema: ilha

sábado, outubro 31

Do que eu acho que tenho quase certeza - I

É porque às vezes o chão sai de baixo dos nossos pés que vale a pena caminhar. Ou cair.

Desde que sempre continuemos.

quarta-feira, outubro 28

Hábito

Cheguei perto. Tão perto que pensei que poderia tocar o teu rosto, tuas mãos, teu corpo todo. Dormias feito criança pequena que brincou o dia inteiro e caiu no sono no sofá da sala, quando eu entrei. No quarto, repousava a nossa foto sobre a cômoda de cabeceira; e eu que pensei que tu já nem a tivesses mais.

Por pouco não te acordei. Embora a vontade fosse maior do que eu, resisti; eu que não devia nem estar ali e por um engano, por força do hábito, estava, arrependida das escolhas que fiz, olhando e lembrando o porquê de tudo. Mas dizem que é quando acaba que a gente pensa nas coisas boas; ou melhor, só lembra das coisas boas. As chaves pendiam na mão esquerda, balançando com o tremor dela.

Eu cheguei tão perto que podia até sentir o calor que vinha do teu corpo, e a sensação de conforto que vinha junto. Queria sair antes que a saudade me tomasse por inteira e me impedisse de pensar, como sempre acontecia, mas minhas pernas não mais me obedeciam.
Deixei as chaves do apartamento sobre a cômoda, ao lado da foto. Devagar, e intimamente contrariada, me virei para a porta e me pus a andar.

- Fica.

A porta do quarto se fechou, encerrando meu pecado e meu desejo, por dentro.

domingo, outubro 18

e agora...

O horário de verão começou. <0>

Agora é contagem regressiva até o inverno...
Falta muito, será?? *_*

sábado, outubro 17

Verão

O horário de verão já vai começar. Eu sei que sou do contra, mas eu não sou muito fã dele... Porque me lembra que o verão tá chegando, o que me lembra que vai ficar quente pra c***, e aí eu já começo a passar mal =S "Que exagero", tu dirias. Mas é que a minha pressão vai lá pro pé e eu vou pro chão, literalmente; tonturas são apenas a parte mais suave.

Ok, tá ficando dramático isso aqui. Vou encerrar o post pra adiantar o relógio. Ah, e como se não bastasse ainda perco UMA HORA do meu domingo ¬¬'. Isso não é legal.

"Ah, o verão!..."
Pra quem gosta, :P


PS: o post temático foi postado antes do tema ser definido =O. Claro que não, é que eu tinha começado a escrever aquele texto e não tinha terminado, aí quando saiu o tema eu encaixei ^^ Aí ficou a data que eu tinha começado a escrever. Então, não, eu não tenho poderes para prever o futuro... mas até que seria legal xD

sábado, setembro 26

Make a wish - Postagem Temática

Eu queria que fosse verdade. E queria que tu pudesses acreditar também. E queria poder olhar para frente sem temer o que está por vir, sem me esquivar dos julgamentos por saber que seria absolvida em todos eles... Eu queria ver além dos teus olhos cheios de um não-sei-o-que e ter certeza de qualquer coisa. Absolutamente qualquer uma.

Eu queria, meu amigo, poder contar comigo mesma nas horas difíceis; ser forte, destemida, esperta. Eu queria ter uma história gloriosa para contar, ser independente por completo e me orgulhar de certas coisas. E também acreditar que há alguém, ou alguma coisa, olhando por mim; que viesse ao meu encontro quando as coisas dessem errado.

Eu queria que tu pudesses olhar nos meus olhos e acreditar em qualquer coisa, também. Mas não se encontra nada por aqui.

Nem fé; é fato.

Me diz que as coisas vão mudar; crer em ti já me basta. Se a tua fé move montanhas, me ajuda a mover as pedras da minha estrada. Tropeço em todas elas e meus joelhos já estão doídos por suportar meu peso, esmagando-os. Eu queria saber o que se faz para acreditar nos "dias melhores"... Me ensina?



-- * --
Esse post faz parte do projeto do Rafa Glória, o Postagem Temática.
Essa edição teve como tema "Fé".
acompanhe o blog do Postagem ;]

sexta-feira, setembro 25

Se foi

Não se permitiu um último abraço, um último "adeus", nem os votos de que fosse feliz ou tivesse sucesso quis ouvir. Não era dos caras mais fortes emocionalmente, não gostava de momentos como aqueles; preferiu apenas ir. E se foi.

Uma vida que não chegara a provar por inteira, que lhe havia trazido buracos imensos e sempre vazios não merecia qualquer consideração por parte dele. A deixaria para trás da mesma forma que ela o havia atraído: de repente. Farto da mesmice de todos os dias, resolveu que era hora.

Nem beijos ou abraços, nem se quer aperto de mão ou um "tchau". Ao sair, apenas olhou para os que ficaram com a sorte que não era mais sua.

- O último apaga a luz.

E se foi.

sexta-feira, setembro 18

Time of your life - Postagem Temática

Parece que foi ontem que eu estava indo pro colégio, pra minha turminha da pré escola, com uma lancheira e uma pasta cheia de desenhos. Mas não foi. E mesmo que as lembranças sejam tão claras elas me deixam a certeza de que eu estou esquecendo dos detalhes mais importantes. Minha memória raramente funciona como um filme sendo reassistido, normalmente é como um álbum de fotos arrumado cronologicamente, ou um curta (bem curto mesmo), mostrando minha vida como uma apresentação de "slides".

Eu tenho as minhas preferidas. Aquelas que eu deixo na prateleira mais bonita da minha memória. Tempos e momentos felizes, marcantes, relevantes e até uns meio obscuros que, de uma forma ou de outra, me ensinaram alguma coisa que valha a pena lembrar e passar adiante. E tem também aquelas que não nasceram de momentos reais, são apenas fruto de uma imaginação meio amalucada, que fica retratando o que poderia ter sido se tivesse acontecido.

Minhas fotografias pessoais, secretas; lembranças.



"[...] So take the photographs and still frames in your mind
Hang it on a shelf of good health and good time
Tattoos of memories and dead skin on trial
For what it's worth it was worth all the while

It's something unpredictable
but in the end it's right
I hope you had the time of your life"
[Time of your life - Green Day; Fonte: http://letras.terra.com.br/green-day/500567/]



*Essa postagem participa do Postagen Temática
http://blogsintonizados.blogspot.com/
O tema dessa edição foi: Fotografia

terça-feira, setembro 8

Step by step

É difícil crescer. E o fato de que isso é algo natural não ameniza o frio na barriga. E não é que eu me recuse a tal; apenas não nego que tenho medo.

Nunca gostei de surpresas. Minha consciência - a de alguém que vive com o pé cravado no chão - me faz querer ter o controle das coisas que acontecem comigo e em torno de mim. O que é mais impossível de controlar do que o futuro próximo? Meus pés não podem pisar num chão que ainda não existe; é areia movediça, é uma enorme caixa de surpresas, ou uma versão de Caixa de Pandora.

Mesmo sem saber onde pisar, é preciso seguir em frente. Quem não segue, não cresce; estaciona na vida de sempre, com as coisas de sempre, com as pessoas de sempre e, pior, com os pensamentos e sentimentos de sempre. Não crescer é triste. Eu não vou estacionar porque mais medo eu tenho é de ser sempre desse mesmo jeito.

sexta-feira, setembro 4

Os nós

Não precisava de mais tempo. Estava farto de esperar por algo (ou alguém) que insistia em não aparecer. Procuraria, se pudesse. Mas como saberia quando encontrasse? Não saberia, e deixaria passar, como sempre fizera. Pouco a pouco sentia que o tempo estava se esgotando; seria a última chance para fazer dar certo? Perder o controle e "sair da casinha", ou da bolha que o cercava; romper laços que o prendiam a um passado infeliz. Ele nunca fora bom em desatar coisas, por isso estava sempre preso. Mas agora sufocava; morreria, tragado pelo desespero.

Ele queria ser livre, apenas. Não só. Livre. Queria atravessar o mundo e aparecer em todos os lugares para que ela o encontrasse. Queria estar com ela. Viver com ela o tal do "felizes para sempre". Ela, de certo, nem existia. Com sua sorte, ela não existia. Seria livre, se quisesse. Mas só.

"Hey Lyla!"

quarta-feira, setembro 2

Alma Velha

A coluna dolorida, a cabeça esquecida, pernas cansadas e ombros moídos. Envelhecimento precoce. Precocemente precoce, para ficar claro. E quantos anos se precisa ter para poder possuir todas essas aflições? A consciência pesa, às vezes; é justo tomar para si todas as responsabilidades? Meia culpa por não ser o que queria. Culpa inteira. É toda minha.

E essa mania de sonhar com um futuro e lembrar de um passado que não existiu... A felicidade instantânea das minhas inverdades contadas só para mim. Saudosa do tempo que era jovem. Alma velha, sempre tive.

quinta-feira, agosto 20

Cinza chumbo


Alguma coisa que nunca muda, não importa o que passe. Sempre assim, sempre igual. E não importa a quantidade de experiências, de acontecimentos, de sonhos (realizados ou não), de vontades (racionais ou não)... é assim, e pronto. É mais forte, e persistente. Cega, machuca, prende. Sempre assim.

Nunca some por completo. Às vezes se esconde; mas volta. Igual. Mistura o branco com o preto; mais preto, e fica. Por quanto tempo?

domingo, agosto 16

E nós - Postagem Temática

E tu, ainda nesse bar a essas horas, afoga tuas mágoas num copo de cachaça barata. Afoga tuas incertezas, teus medos e tuas inverdades; tu foges, como uma criança que ainda não aprendeu a encarar o escuro.
E agora, fazes da madrugada tua companhia para a bebedeira porque sabes que ela só vai embora quando o sol nascer e sabes também que ela não vai te calar, te acusar; mas a tua consciência já basta, não é? A culpa grita nos teus ouvidos e é por isso que tu ainda estás te entupindo dessa merda.
Só que a madrugada não está nem aí para os teus problemas e no fim ela só vai te entregar pro começo de um novo dia, sem se preocupar se tu vais chegar em casa ou não. E ela não vai deitar do teu lado e esperar que tu caias no sono, nem vai preparar um café forte pra tu te sentires melhor. E quando as saudades das nossas noites que viravam dia baterem na tua porta, tua vais estar sozinho; a madrugada não é nada além de um esconderijo, do breu que te acolhe, que te ampara.
E tu, ainda sentado à mesma mesa em que nós costumávamos afogar as nossas mágoas e resolver os nossos problemas, bebe cada gole dessa coisa amarga e fajuta procurando o mesmo gosto que ela tinha quando nós a bebíamos. Pedes para que as horas não passem para que ela não vá embora, também. Mas as horas passam, como sempre passaram, e no fim tu estás só novamente.

E eu, aqui, ainda te olhando, posso sentir o peso que a tua ausência descarrega sobre mim. Afogo-me nesse copo imundo, nesse corpo de ninguém. A madrugada chega e eu me acabo porque ela me diz que tu não estás aqui, e ela ri. Ri da minha cara, na minha frente; eu te fiz partir e te culpei pela minha instabilidade, por isso me desfaço na culpa que te assombra.
E agora eu me perco nesses braços que não são os teus, procurando o teu olhar nos olhos que não te pertencem. A madrugada chega e se vai, o sol nasce e se põe e ela chega de novo, para mim e para ti. A madrugada que te acompanha e que me tortura; que depois te abandona e me devora.



[sugestão de tema: sorriso]
http://blogsintonizados.blogspot.com/

domingo, agosto 2

Conforto

A árvores passavam pelo vidro do carro acima da velocidade permitida. Ele suava enquanto os olhos vagavam, perdendo o foco da estrada iluminada da cidade. Pareciam vazios, parecia escapar-lhe os sentidos.

Seus olhos foram cegados pela luz forte. Não era possível enxergar nada além do que se movia, vagarosamente, em sua direção; uma sombra distorcida. Uma sombra com braços e pernas, dedos que se flexionavam a intervalos regulares e frequentes, os cabelos longos e esvoaçantes. Uma sombra que poderia ser bonita, se não o assustasse tanto como fazia naquele momento.

"Não, não pode ser você... Não pode, não pode!". Os olhos ainda eram cegos, a sombra ainda vinha ao seu encontro. Não era uma sombra, era um corpo. E o corpo ainda vinha. "Não, não, não... o que está acontecendo?... Eu não posso estar vendo isso, eu não posso estar vendo você... Não você... Não você...". O corpo dele permanecia imóvel enquanto o dela chegava cada vez mais perto. Os olhos ainda cegos, o medo ainda vindo.

"O que você quer, o que pode querer... eu estou enlouquecendo...".
- Está com medo, querido?
"Ela está falando?! Não, não está... não pode estar. Ela não está aqui. Ela está morta, há três anos.
- Não precisa ter medo. Eu estou aqui com você. Nada mais pode te pegar. Eu já peguei.
- Você está morta. Eu sei que está. Eu vi. "Eu estou falando com ela, e ela está morta. Eu não estou falando com ela, eu não posso estar falando com ela..."
- Eu sei que você sabe. Eu sei que você viu. Mas agora, o que importa? Nós estamos juntos, de novo. Isso não é bom? Claro que é bom. Me dê a mão, vamos embora.
- Do que você está falando? Meu corpo não se move. Não consigo levantar. E eu não vou a lugar algum.
- Você sempre foi divertido. Senti sua falta, muito mesmo. Seu corpo não vai se mexer, está amarrado na maca... Mas nós vamos sair daqui. Não gosto desse ambiente. Me faz lembrar de quando... bem, quando eu fui embora.
- Maca?
- Da ambulância, querido.
- Ambulância? - "hum... do hospital psiquiátrico, talvez. Eu estou falando com ela, e não há como eu poder fazer isso" - Eu estou louco.
- Você está morto, amor. Agora pare com as piadas. Está na hora de ir.

O pegou pela mão e puxou, sem fazer muita força. Ele sentiu-se leve. O toque dela era suave e quente, como nunca pensou que seria. Talvez estivesse mesmo louco. Ainda estava cego, mas sabia que era ela e não temia. Andou para longe enquanto os paramédicos tentavam reanimar o corpo inerte que fora lançado para fora do carro. A luz já fugira dos olhos dele, mas ela iluminava tudo.
"Eu estou mesmo louco..."

domingo, julho 26

A minha máscara - Postagem temática

Ele evitava o meu olhar. Eu sabia que aquele olhos não eram mais os meus. Estavam perdidos num mar furioso de sentimentos contraditórios; ao mesmo tempo que queriam conceder o perdão, evitavam qualquer tipo de fraqueza. Ponderavam, em um silêncio amargo. Ele evitava me olhar nos olhos como se eles fossem deflagrar o último e impiedoso golpe sobre sua certeza auto-protetora. Evitava meus traços para não perder o pulso.

Aquele não era o rosto dele; não era o meu rosto. A amargura passara a sair do silêncio para ficar estampada em suas feições, como se apenas aquela expressão dura e irreconhecível fosse suficiente para me fazer dar as costas e partir. Mas não era. O olhos frios e presunçosos continuaram a me observar, ansiando o momento que eu diria que era tudo uma brincadeira de mau gosto, os lábios sorriam um sorriso torto como se rissem de si mesmo; ou de mim. Não era uma brincadeira, ele sabia. Eu não merecia o perdão, e eu sabia.

Sentou na pedra lisa, tapou o rosto com as mãos por alguns segundos e quando as baixou eu podia reconhecê-lo. Os meus olhos, o meu sorriso, a minha expressão despreocupada de quem não tem planos... Era ele, e era meu de novo. Toquei seu rosto com a ponta dos dedos, sentindo uma pele fria e rígida, como se fosse porcelana. Ele baixou o rosto e alguns cacos se espatifaram no chão, colorindo o solo rochoso com pontos marfim da máscara que cobrira seu rosto por todo tempo que estivera ao meu lado.

Ele não era o único que fora enganado; e talvez não houvesse mais sentido pedir perdão.



[sugestão de tema: presente]

terça-feira, julho 21

Uma porta aberta

Arrumou as malas e trancou a porta. Nem notou quando seus passos resistiram ao sair daquele lugar por estar tão desesperada por algo novo. Algumas fotos ficaram dentro do apartamento pequeno, outras poucas se esconderam no fundo da mala; as recordações que ela não tinha certeza se queria realmente apagar. A chave girou na fechadura e toda uma vida ficou para trás.

Em cada degrau que descia, alguma coisa ficava. Uma bolsa, um casaco, uma agenda... e a cada degrau ela podia sentir o peso em sua consciência se esvaindo, se acabando. Ao pé da escada que levava à porta daquilo que a abrigara, não havia mais nada em suas mãos. Carregava com ela apenas seus próprios sonhos e esperanças.

Finalmente, o primeiro passo de sua plena liberdade. Alguma coisa teria que acontecer.

quinta-feira, julho 16

O plano perfeito era não ter um

Eu não queria fazer planos nem traçar objetivos que talvez nunca serão atingidos para depois não sentir aquela coisa por dentro... que não é tristeza (não no começo, pelo menos), talvez um pouco de raiva com a sensação de incompetência gritando nos ouvidos o tempo todos. Eu não queria, mas inevitavelmente eu os faço.

Não são projeções para o futuro próximo, mas para aquele futuro que não se sabe quanto tempo vai demorar para chegar; e se vai chegar. E imagino tantas coisas e de tantas formas que em surtos de consciência e auto-preservação eu tento de todas as maneiras afastá-las. Digo a mim mesma para não ser ridícula, para evitar decepções. Mas será que vale a pena? Não sonhar, não fazer o plano de viagem, deixar as coisas irem acontecendo sem me importar com o rumo que elas estão tomando quando esse rumo me afasta completamente dos meus desejos inconscientes (ou talvez não tão inconscientes assim)? Será que sonhar só é saudável quando se está dormindo, afinal. Acho que o problema não é o sonhar, mas o despertar. Por vezes tão cruel.

Eu tenho um plano e tenho medo dele. Medo não conseguir chegar lá, ou de não conseguir nem mesmo sair daqui. Não é um plano perfeito; mesmo que fosse eu não o queria. Mas eu sou humana e às vezes pateticamente burra. Não importa se eu não quero. Eu sempre os tenho.

terça-feira, julho 14

Livro

"Livro é um volume transportável, composto por páginas encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso e/ou imagens e que forma uma publicação unitária (ou foi concebido como tal) ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outro." [http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro]

ou

Uma porta (ou a saída de emergência, se preferir) para um lugar totalmente desconhecido e não necessariamente real, te contando uma história e ainda te convidando para fugir.


É, eu prefiro a minha definição.

segunda-feira, julho 13

"Dias melhores virão"

Eu sei disso, mas por que é que tem de demorar tanto?

quarta-feira, julho 8

quando o copo está para transbordar

Não era ele. Era a forma como ele se sentia mais importante do que qualquer um. Era pensar que todos precisavam atender aos pedidos dele, sem nunca precisar se mexer pra ninguém. Era gritar tão, mas tão alto e continuamente que impossibilitava qualquer chance de estabelecer um diálogo passional, até que vencesse no grito. O que a incomodava não era ele, mas sua falta de consideração.

domingo, julho 5

"Se lembrar de celebrar muito mais"

Num passado remoto eu queria ser algo que, hoje, tenho certeza que nunca seria. Num passado recente eu não fazia a menor ideia do que eu queria da vida. Por muito tempo tive vida, sem nunca saber como vivê-la.

É como se te dessem um casaco que não te serve e, por mais que se saiba que nunca vai servir, tu simplesmente não troca, como se quem te deu fosse importante e querido demais para que tu se quer ousasse correr o risco de desapontar. A minha vida nunca serviu em mim; ora sufoca, ora sobra... Mas agora eu nem sei. Acho que finalmente troquei de casaco.

No meu presente eu não sei quem eu quero ser. Aliás, pra ser sincera, acho que só quero encontrar uma forma de ser quem eu sou, sem me ocupar com coisas menores e nem me preocupar com coisas inexistentes. O que eu quero é ser feliz.



PS: Mana, sim... "a poesia prevalece".

segunda-feira, junho 29

Canção da meia noite

Era 00:01. Ela escutava músicas que já tinha esquecido e não pensava em nada. Não havia o que pensar, nada pra se preocupar. Os minutos passavam na velocidade normal e ela nem se importava. Todos na casa dormiam, talvez ela também, e se estivesse sonhando, estava feliz. A música continuava a tocar como era esperado, mas já não era ouvida; as atenções estavam voltadas para a estranha sensação que dominava sua mente, um desconhecido e sem motivo bem estar.

Liberdade. Pura e simples, era o que parecia. O silêncio da noite era convidativo a uma longa reflexão, uma discussão interna com direito a julgamentos e conclusões. Mas naquela noite não. Naquela noite ela não pensava em nada e os minutos tinham de passar na mesma velocidade.

segunda-feira, junho 22

Nada romântica

Sentimentalismo pra quem precisa usá-lo. Seja pro que for, eu não quero. O que se sente não precisa ser posto em palavras que formam frases clichês só para ser entendido. Quem ama, ama e pronto. Ama num olhar, num abraço, num aperto. Quem ama por inteiro se faz entender em um gesto, ou até no silêncio.

O frio ama tanto quanto o explícito. Ama por completo, mas por dentro. Sentimentalismo sufoca. Amemos com a cabeça, não só com o coração. O coração é egoísta e exige de volta tudo que oferece, mesmo que por esmola. A consciência cala e ama enquanto houver reciprocidade espontânea.

quinta-feira, junho 18

Enquanto Agosto não chega

Seis meses sem as costumeiras ocupações podem parecer ótimos, mas para mim não tem sido. Desde que terminei o colégio a minha vida passou de superagitada para uma tranquila, frustrante e cansativa rotina de dona de casa; isso não me deixa nem um pouco feliz. Nada contra as donas de casa, mas eu não nasci com essa vocação.

Esse ano tem sido uma incógnita. Depois de terminar o colégio e, em Janeiro, passar no vestibular eu perdi meu chão: minhas aulas só começariam em Agosto e até lá eu teria 6 longos meses pela frente. Fevereiro passou rapidinho e foi bem divertido; porém, quando Março começou e todos voltaram às suas atividades normais eu senti o que seriam os próximos meses: total e completo tédio, exceto em horas salvadoras em que desfruto da companhia de pessoas interessantes.

Aqui em casa todos saíam de manhã ou perto do meio dia. Depois do almoço eu ficava sozinha, sem nada pra fazer. Quer dizer, sem nada legal pra fazer, porque a casa ficava todinha aqui, e, tendo a minha mãe dispensado a senhora que trabalhava aqui, ela ficava inteirnha pra eu limpar. Eu não estou me fazendo de coitadinha; vamos combinar que ninguém gosta de lavar louça, varrer, tirar o pó, passar roupa (e bota roupa nisso!) ... Mas, não havendo mais nada pra me ocupar eu fazia tudo, e nem reclamava. Foi aí que começou a transformação.

Depois de um mês eu já tinha aceitado a minha rotina e era impressionante como pequenas coisas me irritavam. O farelo do pão que o meu irmão estava comendo que caía no chão que eu tinha acabado de varrer ou a pilha de copos que aparecia na pia dois minutos depois de eu terminar de lavar a louça... Coisas desse tipo. Eu estava me tornando um dona de casa que ainda assistia a programas de culinária quando dava tempo e esperava pela chegada do pai com o café passado e quentinho na garrafa térmica. Posso dizer que esses meses me fizeram uma filha prendada e revelaram um lado meu que, acredito eu, só descobriria quando saísse de casa.

Agora, finalmente, restam apenas dois meses dessa rotina. Semana que vem eu faço a minha matrícula e aí é só esperar por Agosto. O meu pai me perguntou quem faria o café quando as minhas aulas começassem... Acho que deixei ele um pouco mal acostumado.

Quando Agosto começar a minha vida começa de novo. Mas eu não sei que vida vai ser. Espero que seja uma daquelas bem agitadas e interessantes. A UFRGS que me aguarde; tá chegando mais uma estudante curiosa e com sede de conhecimento pro curso de Comunicação Social - Jornalismo.

E vamos ver no que dá.

domingo, junho 7

Último copo

Festa. Música, pessoas, copos, corpos. Luzes, de todas as cores e por todos os lados. Copo cheio e vazio e cheio de novo. Dança, amigos, risadas, conversas não entendidas e não terminadas. Copo vazio, cheio, vazio, cheio... Muitas luzes, pessoas girando, paredes girando. Copo vazio, garrafas vazias. Tudo girando, luzes cegando.

Sentindo-se mal, saiu da festa e entrou no carro. Queria sua cama, seu conforto para aguentar a ressaca de amanhã. Carro ligado, postes andando na pista, olhos cansados e cabeça ainda girando.
Carros vindo, luzes vindo, luzes de todos os lados. Pista da cabeça pra baixo.
Sirene, pessoas, corpo.

sábado, maio 30

- Ô pai...

- Fala, filho.
- Eu quero um carrinho de controle remoto de aniversário.
- Um carrinho de controle remoto? Não pode ser só um carrinho? É que os de controle remoto são mais caros, Dudu...
- Mas eu quero o de controle remoto... E eu também quero uma roupa de Homem-Aranha e outra de Duende Verde pra brincar com o Pedrinho.
- As três coisas eu não posso te dar. Escolhe uma e me diz.
- Mas eu quero as três...
- Então vai lá dentro e pede pra tua mãe também.
- Mas a mãe não vai me dar...
- ...
- Ô pai, aquela sua amiga do carro vermelho vai vir na minha festinha?
- Eh, não, filho... Ela não vai não. Mas... Qual é a cor do carrinho que tu queres, Dudu? E tu ainda tá vestindo o mesmo tamanho, filhão?
- :)


.

terça-feira, maio 19

Conclusões

Parece que não há mais por que lutar. Todas as ilusões já se desfizeram, os sonhos se apagaram e agora eu estou aqui: com uma mala imaginária pronta e o desejo de sair correndo ao encontro de uma nova vida. Uma diferente e mais feliz.



Tudo bem, talvez nem todas as ilusões se foram.

sexta-feira, maio 15

Olhos cegos

Os olhos só viram uma garota dançando, rodeada por amigas e alguns caras que tentavam se dar bem, mexendo nos cabelos do jeito que ela fazia quando queria chamar a atenção dele. Parecia viva como nunca estivera, tão cheia de energia que certamente dançaria a noite toda e talvez nem voltaria pra casa. "O pior de tudo é que ela parece feliz.", pensou o cara que observava sua ex-namorada aproveitando a festa.

Os olhos só viram um cara a observando por um longo momento, sem ter coragem de falar ou até mesmo brigar com ela... como se preferisse guardar toda mágoa pra si, evitando transparecer a tristeza que tomava conta dele e sem conseguir ver o que ela tentava esconder. Ela deixou que os olhos o acompanhassem até a porta da danceteria, na esperança que ele lhe lançasse pelo menos um último olhar.

Os olhos dele não viram que ela não sorria enquanto dançava, não viram que ela afastava todos os caras que se aproximavam e também não viram que ela não estava se divertindo. Os olhos não viram que ela não vivia e por isso ele decidiu tirá-la dos seus pensamentos de uma vez por todas. Ele não viu o quanto ela sofria com tudo aquilo e não percebeu o quanto ela ainda o amava.

O que os olhos não vêem, o coração não sente.

sábado, maio 9

Eu te amo mas não quer dizer que eu amo mesmo, só que eu te amo... entendeu?

Incrível de acreditar onde as coisas foram parar. Eu sei que não é de hoje que acontece e que eu não sou a primeira pessoa (talvez a 3473983029º, sendo otimista) a falar disso, mas é realmente triste aceitar que hoje "eu te amo" não significa nada pra muita gente. Sabe aquela frase que te faria parar tudo por alguns momentos, respirar fundo e sorrir aquele sorriso bobo e sem jeito por não saber o que dizer porque nada poderia dizer o que tu sentias quando ouvia isso de alguém? Pois é.

A internet matou a sinceridade e a vergonha das pessoas. Para pra pensar aí e me diz: quantas vezes tu já não leste um recado de uma pessoa que mal fala contigo pessoalmente, ou nunca falou, e lá no final está ele, sorrindo pra você (ou rindo da tua cara mesmo), o "eu te amo" que significa tanta coisa quanto um "até logo" ou "bom fim de semana". Sem falar nas malditas correntes que circulam na rede desde que inventaram o e-mail e que nunca, nunquinha da silva, vão deixar de existir porque elas simplesmente se adaptam a qualquer novidade que aparece na net.

Hoje eu recebi uma que vou te contar... me caiu os butiás do bolso. Dizia mais ou menos que era o "dia internacional do 'eu te amo'" e que se eu tivesse recebido isso de alguém é porque esse alguém me amava e que se eu não mandasse para 20 pessoas eu seria "a pessoa mais odiada do mundo". Sim, isso realmente estava escrito... acredite ou não; sem falar que quem "me amava" era um cara que estudou comigo no 1º ano do ensino médio, que mal falava comigo e com o qual eu não mantenho contato nenhum (nem mesmo virtual). O que me leva a pensar: o que as pessoas têm na cabeça? Sim, porque o único motivo responsável pela corrente seguir adiante é que elas REALMENTE acreditam que serão odiadas se não repassarem. O que de forma alguma significa que ela te ame de fato (talvez nem goste de ti), mas sim que ela não quer correr o risco de deixar de ser amada por quem quer que seja.

Onde foi parar o bom senso? A sinceridade? O sentimento de verdade? Sumiu. Não deixou nem pista. Deve ter fugido na calada da noite, aí pegou um táxi e se mandou. "Eu te amo" tem valor quando é dito pessoalmente, na cara e na lata. "Eu te amo" escrito também vale, mas só aqueles que vêm de fonte segura e que já foram ouvidos e não somente escritos. Eu ainda acredito na essência do "eu te amo"; embora ela já esteja quase perdida.



PS¹: Repassa essa mensagem para 28743907548934721 pessoas em 30 segundos ou além de ser a pessoa mais odiada do mundo tu ainda vai ter 50 anos de má sorte.

PS²: É brincadeira, né. Vê se não vai encher a caixa de e-mail das pessoas com isso.
xD

quinta-feira, maio 7

Por causa da chuva

Era uma manhã chuvosa. Levantou-se da cama e calçou seus chinelos verdes. Como sempre, foi ao banheiro, lavou o rosto, fez a barba e observou a mesma cara que observava há vários anos. Cada dia parecia acrescentar uma ou outra ruga na face daquele homem. Perto de completar seus 55 anos ele se sentia cansado; cansado demais para os seus 54 anos e 11 meses.

Como de costume, saiu do banheiro e vestiu-se na quarto. A mesma camisa que usara na semana passada, a mesma calça que usara semana passada. Olhou-se no espelho, dessa vez de corpo inteiro, e constatou que havia umas dobrinhas a mais por baixo da camisa. Sentiu-se velho e gordo.

Saiu do quarto no mesmo horário de sempre. Pegou sua pasta de cima da mesa e abriu a porta. Era uma manhã chuvosa e ele esquecera completamente disso. Fechou a porta, largou a pasta e foi procurar seu guarda-chuva. "Puta merda, vou me atrasar... vou me atrasar...". Em dias de chuva ele ficava menos tempo contemplando suas rugas e suas dobrinhas para ter tempo de secar-se antes de começar a trabalhar. Esquecera completamente da chuva e agora não achava seu guarda-chuva. "Puta merda...".

Ele já podia ver o chefe andando na direção dele, como aquele charuto fedorento na boca, sacudindo o punho fechado para ele e o xingando de todos os nomes que no final sempre significavam a mesma coisa e queriam dizer que ele seria demitido. Mas ele sabia que não seria. Ele era o único ser que topava trabalhar nas condições que ele trabalhava: sem carteira assinada, recebendo um salário de fome e ainda permanecer naquele ambiente fedorento e sufocante, sem falar que o salário sempre recebia descontos pelos seus raros atrasos, até mesmo quando não se atrasava. Morava sozinho e não precisava de muito dinheiro para manter seu padrão de vida extremamente simples. Conformava-se com sua sorte.

Lembrou-se da chuva e da hora. Pegou sua pasta e saiu na chuva mesmo. Correu até o ponto de ônibus e percebeu que perdera o que pegava todos os dias. O próximo passaria dali a meia hora. "Aahh... Puta merda, puta merda, puta merda...". Sentou num banco e procurou o que fazer até enxergar o seu reflexo numa poça d'água e então permaneceu ali, admirando a carne enrugada de um rosto que não parecia o dele por ser mais judiado que os seus quase 55 anos permitiam.

- Levanta os braço e não te mexe, coroa.
"Puta merda", pensou ele, de braços erguidos.
- Passa a pasta e a carteira, se fizer qualquer gracinha e te furo com o canivete!"
"Puta merda... oh, droga...". O guri levou a pasta, a carteira e um relógio que, apesar de velho, ainda funcionava bem. Tinha sido um presente de seu pai, quando terminara o ensino médio. "Dos males, o menor. Ainda estou vivo."

O ônibus estava chegando no ponto. Ele levantou-se, resolvido a voltar pra casa. Não podia pegar o ônibus sem dinheiro. Virou as costas e começou a caminhar na chuva, que agora tinha ganhado força e vinha acompanhada de alguns trovões. Não dava pra escutar nada que estivesse um pouco longe, a buzina do ônibus que vinha desgovernado, subindo na calçada e passando por cima de tudo que estava pela frente só foi ouvida quando estava a meio metro dele. "Puta merda".

terça-feira, maio 5

Dois dele

Ele era incomum. Não havia outra palavra que o pudesse descrever tão fielmente. Não diferente, nem estranho. Incomum. Às vezes isso assustava as pessoas e acabava fazendo com que ele desfrutasse da companhia de um grupo pequeno e seleto, um grupo de pessoas não necessariamente incomuns como ele, mas tolerantes.

Sabia que não era fácil de lidar com ele. Suas convicções, nem sempre adquiridas depois de ouvir os dois lados, eram praticamente inabaláveis; visto que ele nunca deixava alguém falar tempo suficiente que pudesse chegar perto de convencê-lo. Tinha o seu próprio jeito de ver as coisas e as via de um modo mais dramático que os outros. Nunca era pro seu bem e ninguém nunca tinha problemas como os dele.

Ser incomum não fazia dele uma pessoa com quem não se pudesse conviver, apesar de saber que não era tão simples. Afinal, todos somos diferentes e nossas diferenças sempre vão se estranhar em algum momento, mas ele não conseguia aceitar essas diferenças facilmente. Tudo era uma luta pesada, onde as armas se resumem a argumentos, gritos e ofensas... algo do tipo "o meu é maior que o seu", ou qualquer outra besteira que se enquadre, até que se vencesse pelo cansaço.

Certo dia, durante um período conturbado e repleto de incertezas, ele resolveu que o melhor era jogar tudo pro alto. Começar de novo, talvez... sem saber direito o que. Desistir do que estava quase concluído, desistir de coisas semeadas durante anos porque não se julgava bom naquilo. Ele balançava entre o desânimo, a vontade de mudar tudo e a responsabilidade de assumir uma vida adulta. Há tempos oscilando entre crescer e desistir.

quinta-feira, abril 30

nas linhas virtuais

Já faz algum tempo que eu escrevi algo sobre mim mesma por aqui. Sei lá, não vejo muito sentido em ficar escrevendo coisas que acontecem comigo ou sentimentos que surgem porque nem sempre eles merecem tanta atenção. Hoje, particularmente estranha, me deu vontade de fazer isso; mas eu não sei nem como começar.

Parece que quanto mais a gente vive, menos a gente entende. ("Ah, grande novidade... pensou nisso sozinha?? maazáá...") Que seja. É óbvio e pura verdade. Não, não entre em desespero porque eu não vou começar a falar sobre isso. Na verdade, eu nem sei o que falar. Acho que passar muito tempo sozinha em casa acaba fazendo isso com as pessoas: elas descontam sua frustrante solidão verbal nas linhas virtuais que tu estás lendo. É uma fuga, eu acho.

Vamos fugir, então. ("Aham, hoje ela tá realmente cheia de frases originais! ¬¬") Eu realmente preciso disso. Solidão é uma coisa relativa e particular. Mesmo entre amigos eu me sinto acuada, sempre desconfiada e armada até os dentes. Ironias e sarcasmo às vezes constroem uma armadura bem forte. Eu me defendo, mesmo sem nem saber do que ou por quê.

Solidão é viciante. Vai dizer que nunca te deu uma vontade incontrolável de desmarcar todos os compromissos pelo simples prazer de sair sozinho, caminhar, ou simplesmente ir ou ficar em casa mesmo. É bom. Se tem vezes que a nossa cabeça já está tão cheia de coisas que não dá nem pra ouvir os próprios pensamentos tu não precisas de outra pessoa, com vários outros pensamentos pra te encher a cabeça. Encher não no sentido de incomodar, mas no sentido normal da palavra. Eu gosto de estar sozinha, apesar de ter dito, lá em cima, que estava descontando uma "frustrante solidão verbal".

Bom, acabou minha aparente vontade de descontar. E aposto que tu também já deves estar querendo me mandar calar a boca.


Amanhã é feriado. E pra mim não faz a menor diferença. Todos os meus dias têm sido feriado.

Viva o ócio.

terça-feira, abril 28

"- Vem dormir...

- Agora não. Tenho um milhão de coisas pra fazer ainda. Acho que vou ter de virar a noite.
- Deita comigo, até eu adormecer. Por favor, eu to com um pressentimento ruim, to inquieta... Vai, só um pouquinho... Juro que não te prendo comigo.
- Tá... Só um pouquinho mesmo. Não tenho tempo nem pra respirar essa noite."

Dez minutos depois ela já estava mergulhada em um sono tão profundo quanto se pode imaginar. Ele selou um beijo nos lábios rosados da menina e saiu pela janela. Do vigésimo andar.

segunda-feira, abril 27

conversa fiada

Hoje eu não ligo pro que tu fazes e nem me abalo com o que tu pensas. Eu vou sair correndo, pelado talvez, e vou ser qualquer coisa que seja o que eu quero ser. E eu vou começar sendo feliz.
Então, não me venha dizer que tu não estás bem porque hoje eu não vou te ouvir. Nem reclama da tua casa e nem amaldiçoa a tua sorte; eu não vou me importar. Eu sei dos teus problemas e das tuas dores mas hoje eu vou fingir não conhecê-las.
Não me venha dizer que eu não sou um bom amigo e que nem mesmo me importo contigo. Cansei de ver-te como uma criança frágil e decidi cuidar de mim.
Não me venha dizer que sou cruel ou egoísta porque hoje, ah hoje... Eu vou ser, e não quero nem saber.

sábado, abril 25

nem um conto sem importância.

Eu perdi a inspiração. Não sei que raios aconteceu... Só sei que perdi. Acho que ela saiu correndo pra não ser culpada por mais nenhuma história triste e sem final. Ou talvez ainda esteja por aqui, mas tão bem escondida que nem mesmo ela sabe onde.

Eu tentei escrever alguma coisa pra postar; juro que tentei. Mas não tem jeito; não consigo! Assim que a danada aparecer eu me acerto com ela, pode deixar... Mas até lá, eu fico por aqui mesmo.

Hoje não tem história, nem mesmo tem um conto sem importância.

domingo, abril 19

só uma torcedora orgulhosa e coruja

Tanta gente. Tantas esperanças. Uma multidão gritando em uníssono em busca de um único objetivo. Sorrisos incrédulos, olhos aflitos e coração acelerado até que começou a festa.
Apenas um movimento e o lugar inteiro parecia que iria desmoronar; as vozes se confundiam em meio a tantos gritos que extravasavam tamanha felicidade. Nem precisou muito tempo para ficar claro: a festa recém começara.
Um mar vermelho pulava, gritava, e gritava mais ainda quando soou o apito. Fim de jogo. Temos o campeonato.


Homenagem ao meu colorado que hoje presenteou todos os colorados, que foram ou não ao estádio, com uma maravilhosa goleada. Inter, Campeão Gaúcho 2009.

quinta-feira, abril 9

Velho amigo

Numa manhã fria de inverno um homem de cabelos brancos e com as costas curvadas caminhava pela calçada. Era muito cedo, não havia mais ninguém na rua; domingo era tradicionalmente o dia mais preguiçoso da semana. O homem de cabelos brancos admirou por um momento a vida inteira que lhe era mostrada, como um gigantesco filme onde ele era o protagosnista.

O rigoroso frio não permitiu que ele ficasse na rua por muito tempo. Naquela altura da vida a saúde já não era a mesma de quando era moço, por isso deu meia volta e entrou no galpão para acender o fogão a lenha e aquecer a água e a si próprio.

Seu grande amigo já estava lá, tomou seu lugar em torno do fogão e continuou a acompanhar com os olhos cada movimento que o velho fazia, como se estivesse pronto para acudi-lo a qualquer momento. O velho adorava a companhia dele e sempre retribuía com seus olhos pequeninos e muito azuis o olhar fraternal que ele lhe dava, como se agradecesse a preocupação que ele lhe destinava.

O velho de costas curvadas sentou-se ao lado do amigo, com a palma da mão sobre a cabeça dele como uma mistura de carinho e gratidão. Recostou-se na cadeira e sentiu-se bem. O cão, seu grande amigo, entendeu o gesto e ficou sob a mão do seu dono até que sentiu seu toque esfriar.

A chaleira chiava, o cão uivava e o velho dormia.

sábado, março 21

Era algo que talvez fosse

Há tanto tempo um sorriso completo, preenchido, não aparecia no rosto dela. Era sempre a mesma, por todo o tempo, mas não era como era... ou sempre fora. Talvez alguma coisa tivesse acontecido ou deixara de acontecer. Não sei como dizer e talvez esteja equivocada, mas ela não parecia feliz.

O dia e a noite eram a mesma coisa. Não sabia se dormia o dia inteiro ou se sonhava acordada mesmo, mas ela nunca estava aqui; não como nós estamos, presenciando e vivendo coisas. Ela vivia num mundo paralelo, numa dimensão que era só dela e da felicidade dela. O lugar onde as coisas aconteciam da forma que ela queria que fossem, onde um sorriso pleno nunca deixava seus lábios.

Mas sorria por dentro, apenas. Nunca por fora. Nunca para os outros. Talvez fosse tão fria como o gelo, mas desmoronasse com poucas palavras. Ninguém sabia dizer o que havia de errado com ela, nem mesmo ela; por realmente não saber, acredito.

Era o que era, mas não como sempre fora.

domingo, março 8

A mentErosa.

Estava tudo na cabeça dele. Tudo que ela fazia, tudo que ela dizia, tudo que ela queria. Às vezes, quando fechava os olhos ele via Ana Clara sorrindo para ele, com o sorriso mais lindo que ele já vira na vida. Ele a imaginava entrando pela porta da sua casa, largando a bolsa pesada e os livros da faculdade sobre a mesinha de centro e sentando-se ao lado dele no sofá, aconchegando-se sobre seu peito e o envolvendo com os delicados braços que Deus lhe dera. O perfume dela fazia com que perdesse os sentidos e se entregasse àquele simples prazer de abraçá-la e respirar o ar ao redor dela.
Abriu a janela para apreciar a maravilhosa noite que fazia. Deixava que a lua banhasse seu rosto com a mesma luz que banhava o dela.

Ana Clara entrou, largou sua bolsa e os livros da faculdade sobre a cômoda do telefone e ligou a TV. Tirou os sapatos de salto alto e bico fino para deixar o sangue fluir livremente em toda e qualquer parte do seu corpo e colocou os pés sobre a mesinha de centro, sentindo uma estranha e gostosa sensação de liberdade. Era sexta-feira.

Ele, da sacada do seu apartamento podia vê-la em qualquer parte do apartamento dela, exceto no banheiro. Desejou estar em frente a ela, massageando os lindos e pequeninos pés que repousavam sobre a mesinha. Ela o recompensaria com outro maravilhoso sorriso e diria que precisava dele tanto quanto ele a queria por perto, porque o amava. E ele seria tão feliz como nunca imaginara que alguém seria capaz de ser.
Mas estava tudo na cabeça dele.

Ana Clara voltou-se para a porta quando percebeu que alguém havia batido. Abriu um sorriso quase ao mesmo tempo que abriu a porta. Esticou seus braços para receber o abraço que lhe davam, comprimindo seu peito até quase não poder mais respirar. Ela pegou o namorado pela mão e o levou até a sacada, sentando-se com ele nas almofadas que ficavam ali e deixando que a lua os iluminassem e refletisse no sorriso dela.

Ele saiu da sacada e voltou para o sofá, onde continuava com a sua Ana Clara debruçada sobre seu peito e olhando-o com seus olhos de esmeraldas e o sorriso mais lindo que ele já vira.
Estava tudo na cabeça dele. Absolutamente tudo.

terça-feira, março 3

Perda, papéis e tesoura

Em frente à lareira ela sentou. Mexia nas brasas como se procurasse por alguma coisa que não estava lá. Talvez procurasse pelo fogo que sua paixão perdera... ou procurasse os motivos que levaram a tal.

Abriu o álbum vermelho de fotos. O vermelho era o que guardava as recordações dos momentos mais especiais que ela vivera ao lado dele. Tantas fotos, tantas lembranças. Aos poucos, retirou uma por uma das folhas plásticas do álbum e, tão lentamente quanto retirava, as atirava na lareira que as consumia junto com o fogo que queimava.

Chorou. Se um dia, há cinco anos atrás, alguém lhe dissesse que ele acabaria fazendo com ela o que ele jurara que nunca faria, ela seria capaz de cortar relações com essa pessoa, e sequer olhar para ela depois. Confiava cegamente nele, nas palavras dele... Um erro.

O olhos vermelhos e inchados não conseguiam esconder a decepção e a raiva que agora estavam dentro dela. Pegou a tesoura e começou a picotar as fotos que ela ainda não havia queimado; nem mesmo olhava para elas, apenas as cortava com tamanha vontade que nem ela saberia explicar.

A campainha soou. Ela, como se tivesse sido puxada de volta de um sonho e voltara para a sala, parou confusa. Não era hora de receber visitas; afinal, já passava das três horas da madrugada. Ela deixou a tesoura sobre a mesinha de centro e foi até a porta. A campainha soou mais uma vez; olhou pelo olho mágico e viu, do lado de fora da casa, o cara que a enganara por todos aquelas anos e que estava em todas as fotos queimadas e picotadas no meio da sala. Atordoada com a presença dele ela deu as costas para a porta, escorregou até o chão e ficou ali, imóvel, chorando mais do que nunca.

Ele ouviu um barulho seguido por soluços e gemidos. Encostou o ouvido na porta e percebeu que ela estava do outro lado. Pediu que abrisse, pediu que parasse de chorar. Ela respondeu que fosse embora, que nunca mais ousasse chegar perto da casa dela. Ele pediu perdão, pediu que ela o escutasse. A porta se abriu.

Ela andou de volta para o centro da sala, sentou-se onde estivera a noite toda e ficou olhando para lareira, fixamente. Ele entrou, dirigiu-se para onde ela estava mas ao ver as fotos cortadas, parou. Respirou fundo para controlar suas emoções e continuou a andar. Ajoelhou-se na frente dela e puxou-a para poder abraçá-la. Ela, como se não controlasse mais o próprio corpo deixou-se levar ao encontro dele, mantendo os olhos fixos em suas lembranças e seu coração consciente da dor e do desprezo que sentia.

Quando o corpo dela foi finalmente envolvido pelo dele todas as lágrimas que estavam nos olhos dela rolaram pelo rosto, deixando úmido o ombro dele. Os olhos que estavam perdidos, olhando para dentro dela, de repente despertaram. A tesoura afiada refletia a luz da lareira, a poucos centímetros de sua mão.

segunda-feira, março 2

Tão frio como nunca estivera.
Os olhos daquele homem pareciam abandonados no vazio, admirados com o grande nada que havia na frente deles. O corpo inerte, abandonado no banco do parque, tentava expressar o estado que sua vida ficara depois de tudo; depois de uma vida inteira de fracassos e decepções. A sombra de um sorriso surgiu em sua face enrugada; um sorriso tão vazio quanto seus olhos. "Rir para não chorar, rir para não chorar..."
O homem, velho e cansado, venceu a inércia e pôs-se a andar. O parque parecia tão grande... Estava deserto àquela hora, como ele estivera durante a vida toda. O pôr do sol anunciava uma noite quase tão bela quanto fora o dia. Mas ele não percebia. O dia não fora dos mais bonitos, dentro dele. A noite escureceria o céu e tornaria a rua um lugar agradável de se ficar. Dormiria sob o céu estrelado e banhado pela lua que de tão cheia ameaçava explodir.
O banco perto da ponte sobre o lago era o seu favorito. As estrelas refletiam no espelho d'água e iluminavam tudo ao redor. Ele sentia-se vivo lá. Acomodou-se; fez do casaco rasgado e sujo seu cobertor. Deitado, olhando para o céu, viu uma estrela cadente: fechou os olhos, fez seu pedido e nunca mais os abriu.

quinta-feira, fevereiro 26

a mesma vida

A noite começara como sempre; um cara cansado chagando em casa e largando seu casaco sobre a cadeira da cozinha, dirigindo-se ao banheiro e tomando seu banho. A casa vazia, como de costume. O som do silêncio preenchendo os espaços tão absurdamente vazios naquele lugar. Tudo igual.

A noite foi avançando como sempre avançava; um cara jantando qualquer coisa aquecida no microondas, a louça lavada e deixada no escorredor, o mesmo cara deitando-se em sua cama fria e vazia esperando que o temporizador da tv a desligasse e indicasse que já era tarde de mais para estar acordado, e então dormiria sem nenhum afago o um simples “boa noite” proferido por uma voz familiar.. Como sempre fora. Sempre seria.

Amanheceu como amanhecia todo dia. O mesmo sol, a mesma luminosidade adentrando o quarto daquele cara que se levantava muito antes que isso acontecesse. O cara não estava mais lá, como nunca estivera àquela hora.

E a casa já voltava á sua costumeira e abandonada rotina. Como sempre acontecia.


sexta-feira, fevereiro 13

era de mim para mim...

No começo era só meu. Eu escrevia, eu lia. Não me importava se outros não entrassem no Inacreditável Mundo, era o meu mundo afinal.
Esse espaço servia para provar para mim mesma que eu tinha coragem de mostrar meus textos para outras pessoas, mesmo que elas não os lessem. O importante é que estava lá, para quem quisesse.
Não que o número de leitores seja grande, mas o fato de existirem é ainda estranho para mim.

Em todo caso, espero que gostem disso aqui. Foi feito para mim; entretanto, creio que acabou sendo feito para outros também e é um prazer dividi-lo com vocês.
Obrigada por passarem alguns segundos dos seus dias por aqui.

Bom final de semana.

segunda-feira, fevereiro 9

situações estranhas em lugares inusitados

Este fim de semana aconteceu uma coisa fora do comum. Também não foi nada de mais, apenas algo inesperado.
Fui a um festival de música muito conhecido onde havia uma gaaleeeera. Realmente cheio. Aposto que muitos dos jovens que lá estavam já tinham ingerido algum tipo de bebida alcoólica e não estavam no seu mais perfeito estado. Eu não tinha; juro. Por ter tomado um remédio pouco antes de sair de casa me privei de bebidas para não interferir no efeito dele e, por isso, gozava de total consciência dos acontecimentos ao meu redor.

Numa festa tão lotada como aquela e com música rolando solta em todos os lugares é meio difícil de conversar; porém, lá pelas tantas eu resolvi me sentar, o sono colaborava com o fato de que eu não gostava da banda que estava tocando e juntos eles me convenceram a descansar. Certo tempo depois um rapaz puxa um pedaço de papelão, coloca ao meu lado e senta-se ali. Pergunta meu nome, se apresenta e começa a conversar. Até aí tudo bem. Mas a conversa foi rolando e quando eu percebi do que falávamos controlei um risinho incrédulo: era duas horas da madrugada, eu estava sentada no chão (na verdade, sobre uma peruca laranja que uma amiga minha tinha pego e não estava mais usando), ao lado de um cara com uma cara de sono pior que minha, falando sobre estágios e concursos públicos e concordando em optar pelo segundo porque oferecia maior estabilidade. Isso depois de já ter falado sobre vestibular e faculdades, em pleno festival de música.

Cheguei a conclusão que o sono pode ser um entorpecente poderoso. Estávamos sob efeito.

terça-feira, fevereiro 3

e tinha um ônibus que sairia 10 min depois...

Praia é realmente muito bom. Não só o clima de paz que normalmente tem, mas cada coisa, inclusive o tédio. Bom, no geral as minhas férias em floripa foram ótimas mas, como nem tudo é perfeito, algumas coisas definitivamente não foram legais: a volta pra casa, por exemplo.

O simples fato de estar deixando a praia, com sua areia branquinha, água limpinha e sol de rachar, já não é legal; agora, quando há no teu ônibus e mais precisamente no banco da frente, uma senhora passando mal e, no banco de trás, um senhor que ronca mais alto do que todas as pessoas que tu conheces (mesmo se estivessem juntas!) já é castigo.
Tudo bem, essas coisas acontecem e tais pessoas não têm culpa. Mas bem que o Cara podia ter aliviado por passageiros do ônibus que eu peguei e colocado um dos dois em outro ônibus, não é?!
Que sufoco!

Nessas horas a idéia de dormir na própria cama e rever algumas pessoas é reconfortantes e nos faz sentir felicidade. Só que a viagem levaria 6h; a senhora que passou mal fez isso várias vezes, a partir dos 20 min de estrada. O outro dormiu a viagem INTEIRA. Ele foi o único.

quinta-feira, janeiro 8

quatro dias

Tá legal.
Talvez não tenha sido do jeito que eu esperava e queria, mas já foi. Ah, só eu sei como me arrependo de todas as horas em que eu fazia qualquer outra coisa em vez ler alguns daqueles livrinhos... Se pudesse voltar, acho q faria muita coisa igual, confesso; mas nem tudo. Nem tudo.

Ok, ok. Eu talvez esteja reclamando de barriga cheia, mas é por achar que vou conseguir sem merecer. Não quero que isso pareça nobre; é o que eu realmente acredito.

que seja, então.

domingo, janeiro 4

;)

Cansativo... mas eu ainda chego lá.

sexta-feira, janeiro 2

Feliz Ano Novo!


Feliz ano novo!
1º de janeiro não é só 1º de janeiro, como o 1º de fevereiro é só 1º de fevereiro. 1º de janeiro é o primeiro dia do resto dos dias de um ano novíssimo em folha. É um recomeço, uma nova chance de fazer as coisas valerem a pena de verdade. Talvez seja uma dos dias mais místicos do calendário... até mesmo para os céticos. Quem não acredita na esperança renovada que o primeiro dia de um ano proporciona? Sejamos felizes, desta vez.

O ano é novo, mas a vida ainda é a velha. Planos e promessas não são nada se nunca forem cumpridos. Boa sorte para nós.