sexta-feira, dezembro 31

A música

Dessa vez eu não vou parar para avaliar o meu ano. Já passou, não passou? Que diferença faz eu dizer se foi bom o se foi ruim... A melodia era conhecida. E já se foi.
E o que vem é feito de planos, de promessas que eu não vou cumprir, de maneiras diferentes de melhorar a vida, de músicas que eu ainda vou cantar e de algumas que vão dizer mais do que eu gostaria de ouvir; o de sempre.

Quem sabe, dessa vez, eu pare de negar a personalidade que eu deixo escondida no meu porão e resolva que posso parar de adaptá-la ao que é mais simples. Eu não sou simples, e ponto. Digo que ando numa corda bamba que insiste em continuar instável, mas dessa vez eu vou descer dela - para entrar numa montanha russa, quem sabe; mas eu quero. A música pode ser a minha ou a tua: eu vou dançar de qualquer jeito.

Encerro sem o balanço do ano passado. E espero ficar sem o balanço da corda. Eu vou fechar os olhos e sentir o frio na barriga. Deixar a música vibrar o meu corpo por dentro. Sentir de fato.

quinta-feira, dezembro 30

Sobre danos reversíveis

É sobre ter alguém ao lado. Dividir um quarto, uma cama, mas não só; dividir uma dor, ou um sonho quebrado. É sobre dividir.

Eu nunca fui boa nisso.

Eu acho que você entende o que eu digo. Nosso egoísmo nos aproximou, de uma maneira estranha e meio torta. Egoístas convictos; minha vida, sua vida - sem a tal da "nossa" vida. Você não ia gostar de mim depois que me descobrisse por inteira. E a verdade é que eu lhe desapontaria porque não consigo deixar o "nosso" tomar o lugar do "meu". É meu ou não é; e é inteiro ou não - não é metade.

Contudo, eu poderia pegar emprestado o seu coração, se você concordar em dá-lo temporariamente para mim. Temporariamente. Mas meu.
Aí nós teríamos alguma coisa interessante.

segunda-feira, dezembro 27

Dos nomes

Eu não gosto deles. Acho que nomear personagens faz com que elas sejam simplesmente o nome que carregam, como se eu visse alguém e decidisse escrever sobre essa pessoa e ela não significasse nada além do que eu digo que significa. Eu não gosto dos nomes difíceis, eu não gosto dos nomes em pessoas que não existem.

Eu gosto dos pronomes. Os pessoais, os relativos, os oblíquos e os mentirosos. Os que não dizem nada, os que me dizem que pode ser eu ou tu, ali, brincando de ser qualquer coisa. Eu gosto. Dessa incerteza, dessa volubilidade; preciso dela.

Quando nós cansamos de ser quem somos, corremos para um pronome - para sermos outros. Então misturo. Eu sou GabriEla.

sábado, dezembro 25

"Boston"

Ela poderia ter feito tudo certo, se tivesse tido a chance. Nenhum plano, nem esperanças, apenas ela fazendo que o tinha vontade. Se tivesse tido a chance de fazer, teria dado certo. Mas você não a conhecia por dentro, então como poderia saber? Como poderia saber que ali, vestindo um jeans e uma blusa discreta, desfilava o melhor presente que você já desejou ganhar? Não poderia, por isso ela não conseguiu trazer um sorriso para você vestir. Por isso a blusa passou desapercebida pelos seus olhos.

Você fez isso errado, sabia? Mas quem sou eu para dizer. Eu também não a vi. Quem veria? Um par de jeans e uma blusa sem cor, quem adivinharia que ela faria tudo certo... Mas você poderia ter tido mais sorrisos, se ela tivesse tido a chance. Sem dívidas entre você e ela.

Agora ela está com uma mala pronta, tão cheia que você não cabe nela. Você vai ficar para trás. E ela vai partir a qualquer momento.

E então, quais são os seus planos?
I think I'll get a lover and fly'em out to Spain
I think I'll go to Boston,
I think that I'm just tired
I think I need a new town, to leave this all behind
I think I need a sunrise, I'm tired of the sunset
I hear it's nice in the summer some snow would be nice... oh yeah
[Augustana - Boston]

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e enquanto eu escrevi o meu texto, o André Lacasi escreveu o dele, ambos inspirados na mesma música. Confere o post "Mas a verdade" no blog Espelho e Reflexo. : )

E a Gabi Luz, desafortunada com a mesma vibe que eu e o André dividimos, publicou o texto dela tbm =D Olha lá no blog Inocente Luz a postagem I thik I'll go to Boston.

sexta-feira, dezembro 24

Merry Christmas

Papai Noel

É o seguinte: não vou te pedir um monte de coisas porque isso não tá dando muito certo. E também porque eu não tenho sido tão boa assim pra merecer tudo que eu iria pedir. Mas eu não ligo, ok?
Vamos fazer um trato: você não precisa me dar todas coisas boas do mundo - basta não me dar as ruins - e eu não preciso ser uma menina tão boa assim; porque vamos combinar, essa de ser boazinha não é mais tão cool.

Ano que vem talvez eu esteja mais otimista e animada com toda essa história de árvore enfeitada, pessoas generosas, músicas irritantes e ho-ho-ho. Até lá, não me cobra nada que eu não esteja disposta a oferecer.

Então, feliz natal pra você, Noel, seu velho safado.
Com carinho
Gabi

quarta-feira, dezembro 22

"I'm outta time"

Eu poderia dizer que não quero mais isso para mim. Eu poderia dizer que tudo isso é uma grande merda e que quero mais é que tudo se exploda. Que o bom é o que não se sente, é o que se imagina sentir. Que o bom para mim é tudo que você não é.

Mas você acreditaria em mim?


Me convença, então. Me convença, por favor.


terça-feira, dezembro 21

Do verbo

Não é por causa de como é, não é pelo que significa. É pelo rótulo, é pelo peso. É o verbo. Não te culpa, de verdade. Quem sabe não seja melhor se ficar só assim, do jeito que está. Um dia as pessoas entendem que nem sempre o convencional é o melhor - aliás, se tu queres a minha opinião, nunca é... tipo roupa de tamanho único, que é do tamanho de ninguém. Quem sabe tu segues assim, do jeito que és, e te encontra mais feliz do que pensou que podia ser.

Não precisa do verbo para sentir o substantivo. Eu te entendo.
Um dia eles também vão.

domingo, dezembro 19

Outros tempos

Passou. O medo de não alcançar, a ansiedade por esperar, o nervosismo por não saber. Conseguira as respostas; conseguira desvendar as perguntas, na verdade. Não sabia como encaixar o que tinha nas questões que formulara, mas contentava-se com o simples fato de ter uma resposta correta para uma pergunta urgente. Passara muito tempo desde que havia começado a contar os dias para a chegada desse dia. Agora ele chegara.

Passou pelo medo e disse "tchau". Olhou a ansiedade, abanou a mão e sussurrou um "até logo". Deixou as questões que ainda não haviam sido respondidas guardadas na gaveta - outra hora voltaria a elas. Outra hora preocuparia-se novamente. Outra hora, somente.

Agora tudo passara. Ou tudo que importava naquele momento. Outras coisas passariam em outra hora.

sexta-feira, dezembro 17

Acelerado

A ansiedade já começava a ser exalada pelos seus poros. Estava tão perto que esticara os braços para poder alcançar mais rápido; sentia que dali a pouco tudo estaria terminado. Poderia então respirar sem ter a impressão de que seus pulmões seriam esmagados pela falta de espaço no peito apertado, e a angústia que tomava conta do coração, das mãos e dos dedos - que agora tremiam - poderia abandonar o seu corpo mais rápido do que previra.

O quanto antes, na verdade.
Cruzou os dedos trêmulos e fechou os olhos marejados. Perdia o controle sobre seu batimento cardíaco mais rápido do que esperava. Cada vez mais rápido.

terça-feira, dezembro 14

Passaredo

De todas as coisas que você não viu
Entre tudo que lhe passou, entre
todas
que lhe passaram...

De todas as pessoas que você não sentiu e por todas as coisas que se foram.



Eu não estarei entre elas.

domingo, dezembro 12

Afazer - II

Há dois anos queria ter te dito alguma coisa. Há dois anos não deixara de acompanhar de longe os passos de um alguém que nunca estivera perto de verdade, mas que de certa forma parecia ser parte natural da vida que ainda não vivera. Era como se soubesse que, de um jeito ou de outro, eles se cruzariam e então tudo estaria bem, por fim.

Era como reconhecer no outro a plenitude de si; a forma mais simples e inteira de ser quem era e o outro ao mesmo tempo. Sabia que voltaria. E dessa vez diria o que engolira há dois anos atrás.

Sorrir. Dizer. E ficar.

sexta-feira, dezembro 10

Afazer

Ela sorriu de volta porque achou que quisesse fazê-lo. E ela ergueu o braço e acenou energicamente, porque tinha certeza de que um dia voltaria a vê-lo; tinha certeza de que precisaria voltar só para isso.

Na verdade, ela sorriu porque não pôde esconder que queria fazê-lo. Sorri e voltar. Por ele.
Um dia.