sábado, dezembro 29

Momentum

Foi quando a forçpara seguir em frente falhou. Foi quando respirou fundo e contou até dez. Foi na hora em que ela não soube o que dizer ao enxergá-lo contradizendo cada uma das palavras que dissera pouco antes; cada uma das promessas descomprometidas que oferecera. Foi quando percebeu que aquilo tudo que quisera junto dele não existia em um futuro desejável - ainda que talvez possível.

Foi quando foi difícil respirar fundo. Quando teve de respirar e contar até vinte.

Foi na hora em que os olhos fecharam e as expectativas caíram para baixo dos pés. Foi quando cada pedaço de qualquer coisa que a movia deixou seu corpo vazio de tudo que quisera... de tudo que queria ainda. Contou até trinta e percebeu que não queria mais nada daquilo, por fim. Não queria mais esse fim. Foi bem na hora em que ela não soube como dizer que era o fim. O fim do respiro, do fundo de peito, do fundo do abraço. Foi quando não havia mais o que respirar. Nem contagens a fazer.



Foi nesse momento que ela fez absolutamente nenhuma ideia do que poderia acontecer em seguida. E de quanta força teria de ter.



quarta-feira, dezembro 26

Podia

Eu podia ser essa princesa que tu querias, dessas dos contos de fadas. Doce, ingênua e passiva. E ainda poderia esperar que minha vida fosse decidida por outras pessoas, como tu, que se quer saberiam direito da minha história e dos meus caminhos. Podia ser princesa, parecer nobre, parecer indefesa. Frágil como porcelana, vulnerável a tua falta de encantos. Eu poderia ser essa princesa que você queria, mas você não vale tudo isso.

Eu podia ser dessas doces, ingênuas e babacas. Mas eu não sou nenhuma dessas coisas. Então não torra o meu saco.


Balaio


Na ciranda que eu dancei, dei as mãos a outras soltas. Troquei os passos e girei; do mundo sul ao norte. Minhas estradas agora me são desconhecidas e minhas manhas de repente se sumiram. Meu lado norte é diferente. Os pedaços desencaixam, se estranham, mas se acertam.

Da vida que tinha, tão minha que era, os pedaços foram se perdendo e mudando meus sorrisos de cor. Minhas partes se repartem e se dividem um pouco mais, tornando cada dia um dia de decisões importantes. Dias de acerto de contas comigo; e em todos eles eu percebo que alguma coisa me custa mais. Onde foi que ficou registrado o preço dessa nova versão de mim mesma?


segunda-feira, dezembro 24

Natal

O Papai Noel bateu na minha porta e mandou que eu fosse forte. Disse que eu mesma tinha escrito cartas a ele fazendo os pedidos que agora eu realizava, então que eu fosse menina crescida e aceitasse minha sorte - porque ela era boa. Ele bateu na minha porta e me disse que fosse forte. 

Então eu vou ser. 


Porque ele me prometeu que ano que vem me  tudo que eu senti falta nesse ano. E eu acredito nele.


sexta-feira, dezembro 21

Imediato


Se nós temos apenas agora, me poupa das palavras amargas e sérias que estão sempre prestes a cair da tua boca e me deixa ouvir só aquelas bobagens que tu tens na ponta da língua. Me deixa ouvir as declarações doces, me deixa ver os olhares que eu só pego pelo canto do olho. Se hoje for tudo que temos, me olha de frente e convence que tudo que dissemos não foi mentira; me enche os ouvidos de promessas - que nenhum de nós pretende cumprir. Te deixa ficar do meu lado; me deixa ficar do meu lado, também. 


Se não houver amanhã, que os nossos sorrisos sejam, por hoje, verdade.


quarta-feira, dezembro 19

Tem mais de mim.

Da falta que haveria, da que eu pensei que houvesse, não achei traço nem sombra. Me chama de fria, de estranha; mas verdade é que eu nem sei o que tu foste pra mim. Não faz a pergunta. Não tira de mim uma resposta mentida.


Eu tive outros amigos como tu nos últimos dias.



segunda-feira, dezembro 17

Nota XVII

De quantas vidas tu te alimentas por dia?



Me faz cansar de ter coração.

sábado, dezembro 15

Me dobra a vida

Eu sei que eu posso ir pra onde a estrada faz a curva e me perder nas avenidas daquela cidade que eu fiz em um desses sonhos loucos de quinta. De quintas-feiras cansadas e ansiosas me vieram desejos e intenções segundas; e segundo o meu mapa, me faltaram certezas e um quarto de sorriso.

Do meu quarto eu vejo a estrada fazendo a curva.

A estrada que encurva meus décimos de receio, até que chegam as 10 horas e me dizem que meu trem está partindo em meia. Em meio a sonhos meio incertos, junto os quartos, os quintos e os décimos de segundo que me sobram para um último suspiro. E eu suspiro um suspiro inteiro, enchendo o peito de frações de futuro.

Eu faço a curva.

sábado, dezembro 1

Perdia

Perdida no frenesi, deixou que seus instintos fossem maiores que a noção de certo, errado ou injusto; deixou o egoismo justificado daquela sede incontrolável ser razão para realizar desejos mais urgentes. Pulsantes. Inegáveis. Desejava todos aqueles detalhes que enxergara. 

Enxergara desejos demais. 

Perdida no frenesi de um batimento cardíaco, aceleradamente descompassado, desistira de debater consigo mesma as justificativas que explicavam de maneira racional um comportamento instintivo. Não havia razão para a reação inconsciente que já fora desencadeada em seu organismo. Havia gana, havia agora. Havia pele, olhares e desejos demais.